O impacto de junho de 2013: o ponto de vista de uma jovem nas jornadas

Para encerrar a série sobre as Jornadas de junho de 2013, a cientista social e pesquisadora do CPC Maria Vitória Rodrigues nos apresenta o seu ponto de vista sobre sua participação durante os protestos na Grande Vitória. 

A poucos dias de completar 15 anos me juntei aos 100 mil manifestantes na 3ª ponte, numa noite que marcou a minha vida pessoal e meu futuro profissional. Assistir ao crescimento dos protestos daquele mês me deixaram eufórica e com vontade de participar. No dia da manifestação em Vitória combinei com meu irmão mais velho que iriamos juntos. Um colega dele também foi conosco.

Nunca esquecerei a emoção de subir a 3ª ponte reivindicando melhorias nos serviços ofertados pelo Estado. Ao mesmo tempo, sinto um certo remorso pelas consequências que as jornadas daquele mês geraram no país.

 

Irmão de Maria Vitória Rodrigues nos protestos de junho de 2013. Créditos: Divulgação G1
(http://g1.globo.com/espirito-santo/fotos/2013/06/veja-imagens-do-protesto-em-vitoria.html#F841305)

 

O papel das jornadas de junho de 2013 na política brasileira é observado até os dias atuais, mesmo que já tenham se passado 8 anos. Os protestos, iniciados em São Paulo, tinham como pauta principal o aumento da tarifa de ônibus e metrô em 20 centavos. Nas primeiras manifestações daquele mês a repressão policial foi a protagonista, mas os militantes não recuaram e permaneceram na rua, inclusive atraindo cada vez mais pessoas para o movimento[1].

Como bem exposto no 2º texto desta série[2], do professor Mauro Petersem Domingues, as coberturas jornalísticas iniciais criticavam os protestos, suas motivações e os seus participantes. Porém, curiosamente e repentinamente o tom dessas coberturas mudou, concentrando as críticas ao Governo Federal de Dilma Rousseff e à gestão municipal de Fernando Haddad, ambos do Partido dos Trabalhadores (PT)[3]. As consequências deste direcionamento jornalístico são sentidas atualmente, com a profunda rejeição do PT, e a polarização entre esquerda e direita.

Nos anos seguintes, observamos novas manifestações surgirem, com temáticas encontradas nas jornadas de junho, como as pautas contrárias a corrupção. Em relação a estes protestos é importante observar o envolvimento de grupos empresariais apoiando movimentos que traziam direcionamentos mais à direita, organizações estas, que se encontravam presentes em 2013.

Essa heterogeneidade dos participantes das jornadas, previam as polarizações das eleições seguintes. As outras duas pessoas que participaram das jornadas comigo em 2013, caminharam para direções e alinhamentos políticos totalmente diferentes nos anos que se seguiram após os eventos de 2013.

Mesmo que tivéssemos diferentes visões políticas, estávamos indignados com os serviços prestados pelo Estado, e em cada cidade do Brasil novas reivindicações foram à extensa lista de pedidos dos manifestantes. Na Grande Vitória, uma das grandes demandas era o fim da cobrança do pedágio da 3ª ponte, principal via de conexão das cidades de Vila Velha e a capital Vitória. Durante os protestos as cabines de cobrança do pedágio foram queimadas, e no mês seguinte o valor do pedágio foi reduzido em mais de 40%. Em agosto, o Tribunal de Contas do Espírito Santo deu início a uma auditoria do contrato entre a concessionária e o governo estadual. Em abril de 2014, a cobrança do pedágio foi suspensa após resultados da auditoria, porém em dezembro do mesmo ano a cobrança retornou, e desde então o valor já passou de R$0,80 para R$ 2,20 (veículos de passeio)[4].  

O atendimento às reivindicações dos manifestantes parece ter sido apenas momentâneo, tanto em Vitória quanto em outros lugares. No 3º texto desta série[5], o Dr. Jayme Lopes explicitou como a tarifa de transporte de São Paulo, a primeira reivindicação das jornadas de junho de 2013, já teve um aumento acumulado de 46%, entre 2013 e 2021. Questiona-se então quais foram as consequências práticas destes enormes protestos?

Certamente, a principal consequência não diz respeito a melhoria de serviços do Estado. Uma das conclusões possíveis é que os protestos causaram uma mudança de curso político no país. No 1º texto desta série[6], o Dr. Vitor Vasquez, discorre sobre o crescimento de partidos de direita, e até mesmo alguns partidos que antes eram considerados “nanicos” como o PSL que ganharam um espaço considerável na câmara dos deputados. Além disso, Vasquez também pontua os partidos que saíram perdendo cadeiras nas disputas de 2014 e 2018, principalmente PT, MDB e PSDB, partidos que estiveram como protagonistas nos últimos anos.

Na minha vida pessoal, os protestos me fizeram ter a certeza de que eu queria estudar e vivenciar política, que desde sempre foi a minha praia. Em 2014, aos 16 anos, estava pronta para votar pela 1ª vez. Em 2015, prestei vestibular para Ciências Sociais, muito motivada por estas experiências. Em 2016, assisti incrédula de dentro da universidade o impeachment da então presidenta Dilma Rousseff, a mesma que havia recebido meu primeiro voto. Em 2018, já não estava tão incrédula quando o atual presidente Jair Bolsonaro conquistava seu espaço no Palácio do Planalto.

No próximo ano teremos eleições para presidência, senado, governos e assembleias legislativas. Resta saber se estas eleições de 2022 continuarão a ter consequências derivadas de 2013, e se as jornadas continuarão a marcar a história de uma geração, que hoje se encontra desiludida com o futuro do país.

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