A Análise Comparada da Política

Hoje iniciamos uma série semanal de publicações a respeito de temas relevantes para todos os interessados em entender a política em perspectiva comparada. Por isso, a primeira publicação não poderia ser diferente: o que é a política comparada? Por que e o que comparar na análise da política? O que devem ler os interessados em dar os primeiros passos no campo? Esses são os pontos que serão tratados brevemente pelo coordenador do Centro de Política Comparada - CPC, Prof. Marcelo Vieira.
 
Antes de uma definição da política comparada, é preciso esclarecer o que se entende atualmente por política. A política é o processo que envolve toda a atividade humana de tomada de decisões de caráter público e oficial no interior de um sistema político, isto é, nas fronteiras territoriais e de cidadania onde interagem atores e instituições (usualmente, Estados nacionais e subnacionais ou mesmo organizações supranacionais). Decisões de caráter público são aquelas que afetam toda a coletividade de indivíduos que pertencem ao sistema político. Já o caráter oficial de uma decisão política é referente à necessidade de sua obediência, implicando em sanções até mesmo físicas por parte do representante autorizado do sistema político (usualmente, governos) para aqueles que a desrespeitarem.
 
Dessa forma, a política comparada é a análise descritiva, correlacional ou causal das semelhanças e diferenças entre unidades de análise (casos) onde variáveis políticas incidem, transversalmente (entre casos) ou longitudinalmente (em um mesmo caso, mas ao longo do tempo). Mesmo quando se analisa uma ou mais variáveis políticas em um único caso num ponto fixo do tempo, é preciso ter em mente um quadro de referências comparativas (amostra ou população de casos) para que qualquer juízo analítico possa ser feito. É por essa razão que, nos anos 1950, o rótulo “comparada” foi criado como um cavalo de batalha para acompanhar a expressão “política”. A exigência era que toda análise empírica da política tivesse na comparação uma dimensão metodológica explícita da pesquisa.
 
Portanto, o que se almeja com a análise comparada é algum grau de generalização das conclusões obtidas, seja em nível micro, meso ou macro da política. Mas que variáveis políticas, incidindo em que casos, são passíveis de comparação? Desde “casos” de atores políticos (eleitores, cidadãos comuns, lideranças partidárias, presidentes, legisladores, juízes, burocratas) manifestando suas preferências ou atitudes frente a decisões políticas enquanto “variáveis” (voto, manifestação de rua, iniciativa legislativa, implementação de políticas públicas), passando por “casos” de instituições políticas (partidos, parlamentos, movimentos sociais, executivos, judiciários, burocracias) e suas características “variáveis” (plataforma política, fragmentação partidária, grau de mobilização, tipo de gabinete, nível de insulamento).
 
Para quem tiver interesse em fazer suas primeiras leituras sobre a política comparada, são altamente recomendáveis os seguintes trabalhos:
  • CARAMANI, Daniele. “Introduction to Comparative Politics”, in Comparative Politics. Oxford, Oxford University Press, 2011. (pp. 2-15).
  • COLLIER, David. “The Comparative Method”, in Finifter, Ada (ed), Political Science: The State of the Discipline II. Washington, D.C.: American Political Science Association, 1993 (pp. 105-108).
  • LIJPHART, Arend. “Comparative Politics and the Comparative Method”. American Political Science Review, Vol. 65, No. 3, 1971 (pp. 682-693).
  • PEREZ-LIÑAN, Anibal. “Cuatro Razones para Comparar”. Boletin de Politica Comparada, n. 1, 2008 (pp.4-8).
  • SARTORI, Giovanni. A Política. Ed. UnB, Brasília, 1979. (pp.203-246).
Uma boa leitura a todos!
 
 
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